No final da década de 80, começo de 90, fui infectado pelo vírus do radioamadorismo e “PX”. Naquela época o “grande rádio” que eu possuía não era um Cobra 2000 GTL, mas sim um Cobra 148 GTL que dava dó. Todo fuçado, lâmpada e VU queimados, frente riscada, cheio de furos e chaves. Uma verdadeira “lata velha” que usei para realizar milhares de contatos com mais de 130 países. O rádio era vergonhoso mas a quadra-cúbica de 4 elementos, um canhão de antena, compensava.

Na mesma época um colega que morava algumas quadras de casa era “bem de vida”. Seu pai deu-lhe de presente um Cobra 2000 GTL. Um baita rádio, não só pela qualidade de áudio e recepção, mas também pela beleza.

Aquele rádio era o sonho de todos mas era caro e faltava dinheiro para tê-lo. Naquela época, para mim, impossível.

O tempo passa…

…a vida melhorou (ainda bem), o vírus não saiu de mim e o desejo de ter um Cobra 2000 sempre voltava. Até encontrei vários ao longo dos anos mas como dizem atualmente, “não deu match” pois sempre tinha um “porém”. Ou estava todo fuçado (e mal fuçado), ou todo riscado, faltando partes, frequencímetro queimado e etc. Até comprei dois como “sucata” para, caso precisasse, ter peças de reposição para aquele que um dia iria ter.

Pois esse dia chegou.

Hoje busquei um Cobra 2000 GTL simplesmente zero! Sem riscos, sem amassados, frequencímetro perfeito, VU’s perfeitos, sem furos nas tampas, traseira, fundo, nada. Mais que isso; na caixa original com o alto-falante original, PTT original ainda no plástico, manuais, isopores e até mesmo o envelope de garantia. Uma verdadeira “mosca branca”.

Sua história é bem interessante. Seu ex-dono o comprou nos EUA no começo dos anos 80, usou por algum tempo e, a pedido da esposa, “fechou a estação” por falta de espaço na casa. O rádio foi embalado e “esquecido” dentro de um armário numa fazenda na Bélgica e lá ficou por mais de 25 anos. Numa limpeza na casa, ele reaparece. Então o que fazer? Vender, claro.

A negociação do Cobra 2000 GTL

O rádio foi anunciado num site belga para artigos de segunda mão. Vendo o anúncio não acreditei que era possível existir tal coisa na Europa porque a Dynascan Corporation nunca teve escritório na Europa e nunca vendeu fora dos EUA (parte de sua história pode ser lida aqui, em Inglês). Encontrar essa preciosidade no velho continente já é difícil e em perfeitas condições, é como encontrar uma nota de 500 Euros na calçada da Avenida Paulista.

Foram mais de quinze dias de negociação. De olho no rádio estava outro interessado que a cada lance meu, ele aumentava o dele 5 Euros. Eu não gosto desse tipo de negociação e subi o lance para 500 Euros, aguardando para ver se o outro cobriria. Pois cobriu mas dez minutos depois desistiu. Este foi o “ponto da virada” da negociação pois ficou claro que estava somente inflando o preço.

Neste momento enviei uma mensagem ao vendedor e disse:

“Eu tenho real interesse no rádio. Se quer realmente vender, minha oferta está feita. Entre em contato comigo diretamente”.

O vendedor também cansado do jogo besta do outro interessado, responde: “Aceito sua oferta. Venha buscá-lo”.

Assim, o sonho chegou no shack.

O deslumbrante Cobra 2000 GTL

Este rádio é da primeira série produzida entre 1977 e o começo dos anos 80, quando a Dynascan montava os rádios pela Uniden em Taiwan (depois montou nas Filipinas e finalmente na Malásia), ou seja, já é um “senhor” com mais de 40 anos que inevitavelmente demanda um completo “check-up” para voltar à ativa com toda a força e qualidade.

Abri o rádio e como esperado, encontrei algumas partes gastas pelo tempo. Um potenciômetro que precisa de limpeza, baixa potência em SSB e calibração de frequência são procedimentos de rotina. Fora isso, o chassi está intacto, a caixa de madeira sem problemas principalmente, limpo. Imaginei que encontraria ninhos de aranhas ou famílias de pequenos monstros mas aparentemente não gostaram do ambiente, o que é muito bom.

Ainda não o trouxe para o Brasil. Por enquanto ficará guardado em sua caixa original até o dia de ser embarcado. Quando chegar, mandarei para um colega competente que tenha o mesmo prazer que eu tenho de colocar a mão nesta relíquia e então, colocá-lo junto com algumas outras relíquias que possuo (um Cobra 19 Plus lacrado na caixa, um Kenwood R-2000 DEBEG SP, etc) e ligá-lo para ouvir aquele som que me transportará de volta para a década de 80.

Enfim, o sonho de adolescente torna-se realidade.

Veja as fotos do bonitão 🙂